A Força da Resiliência e da Bondade
Por Ester Mazreku

Quando penso numa mulher extraordinária na minha vida, a minha mãe, Nida, é a primeira que me vem à mente.
Embora muitos possam dizer o mesmo das suas mães, o que mais me inspira na minha vai muito além da sua força maternal. A minha mãe mostrou-me que a resiliência e a bondade estão entre as maiores qualidades que uma mulher pode ter.
Permitam-me contar-vos um pouco da sua história, não só como mãe, mas também como mulher e mostrar porque é que, para mim, ela é verdadeiramente inspiradora.
Uma das coisas mais notáveis que a Nida fez foi seguir os seus sonhos, independentemente da idade, das circunstâncias ou dos desafios que encontrava pelo caminho. Cresceu num país comunista, onde o destino estava traçado de antemão e as oportunidades de escapar a essa estrutura rígida eram praticamente inexistentes.
Casou-se jovem, teve filhos cedo e estudou uma área que não lhe despertava grande paixão. Ainda assim, apesar das limitações, perseverou e tirou o melhor partido do que a vida lhe ofereceu.
Por volta dos 40 anos, já com quatro filhos, tomou uma decisão ousada: mudar de carreira. Voltou a estudar e inscreveu-se em Nutrição, ao mesmo tempo que a filha mais velha. Muitos consideraram uma loucura voltar a ser estudante com aquela idade. Mas a Nida persistiu e nunca desistiu. Não foi fácil ser esposa, mãe e a “aluna mais velha” numa turma de jovens na casa dos vinte anos. Ainda assim, provou que nunca é tarde para seguir o que realmente se ama.
A sua trajetória ensinou-me que, embora a vida, os sonhos e as paixões evoluam, a idade e as circunstâncias nunca devem ser barreiras. Hoje, é uma coach de vida inspiradora, que ajuda outras pessoas a libertarem-se do que as prende ou a iniciarem novos capítulos.
Outro dos seus maiores pontos fortes é a bondade. Não apenas para com aqueles que conhecemos e amamos, mas também para com estranhos, isto é, pessoas com quem nos cruzamos apenas uma vez. Durante a pandemia da Covid-19, em 2020, quando o mundo parou e a maioria ficou confinada em casa, havia um grupo em que poucos pensavam: os sem-abrigo.
Nessa altura, um jovem estudante quis distribuir refeições, mas não tinha meios para as preparar. A Nida disponibilizou a sua cozinha e ofereceu-se para ajudar, apesar dos riscos e da incerteza daqueles dias. O que começou como um pequeno gesto transformou-se num serviço contínuo em Bruxelas, onde todos os sábados são preparadas e distribuídas refeições para pessoas em situação de sem-abrigo.
A Nida não só recorre aos seus conhecimentos em nutrição para garantir refeições seguras, como também vai às ruas. Oferece comida, sim, mas também algo igualmente essencial: amor, atenção e dignidade. Conhece as pessoas pelo nome, ouve as suas histórias e ajuda sempre que pode. No Natal, organiza caixas com pequenos presentes, desde cachecóis, luvas, até sabonetes, para que ninguém seja esquecido e que todos se sintam valorizados. Nunca o faz para ganhar reconhecimento; é simplesmente a sua bondade em ação, que acabou por se tornar na sua maior força.
Alguma vez sentiu como a bondade de um estranho pode melhorar o seu dia? Um mero sorriso ou um ombro amigo? É esse o efeito que a minha mãe tem. A sua bondade pode transformar o dia de alguém, algo que deixou uma marca profunda em mim, mesmo nos momentos em que não me apetecia ser bondosa ou quando sentia que os outros não o mereciam. A sua resiliência e a sua luz inspiram-me a viver da mesma forma.
Por isso, hoje quero incentivar-te: nunca deixes de seguir os teus sonhos, independentemente da idade ou das circunstâncias. Faz tudo com amor e bondade. Levanta a cabeça, olha à tua volta e nota quem pode precisar da tua ajuda. Às vezes basta um sorriso ou segurar uma porta; outras vezes, é dar um passo corajoso em direção a um sonho antigo ou iniciar uma nova etapa de vida.
Nós, mulheres, temos uma força imensa e muitas histórias que merecem ser partilhadas. E talvez um dia a tua filha, ou o teu filho, venha a contar a tua história, tal como eu contei a da minha mãe.
“Nunca deixes de seguir os teus sonhos, independentemente da idade ou das circunstâncias.”



