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Vozes Sem Fronteiras: Histórias de Coragem e Resiliência de Mulheres Unindo África e Europa  

Oct 12

4 min de leitura

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A Esperança das Rosas   


 Por Íris Franco  


À esquerda, a autora, Íris; à direita, a tia, Luzimira
À esquerda, a autora, Íris; à direita, a tia, Luzimira

Tudo começou em maio de 2011, no auge da vida, quando ela descobriu um nódulo duro no quadrante superior do seio direito. Luzimira de Carvalho, como era conhecida na época, com 29 anos, viu o seu mundo desmoronar ao receber o diagnóstico: cancro da mama em estágio 2A com invasão intraductal.   


Foi um choque para todos nós, mas ainda mais para ela: tão jovem, cheia de energia, sonhos, planos e projetos. Ainda me lembro de como aquela semana foi difícil para toda a nossa família. Eu era apenas uma criança na época, mas sentia o peso que pairava sobre a casa dos meus avós e sobre a minha própria casa.   


Foi difícil. Todos chorámos com o diagnóstico. O medo estava estampado nos rostos da minha tia e dos meus avós. Mas, no meio de tudo isso, ela nunca desistiu. Mostrou-nos uma força imensa e encheu as nossas vidas de coragem.   


O impacto foi devastador. A nossa família, e o país, tinha recursos limitados na época para ajudar alguém como a minha linda tia. Mas com o diagnóstico veio o tratamento. Lembro-me que ela passou por duas cirurgias em apenas um mês, sem contar a biópsia, que, embora menos invasiva, também era um procedimento cirúrgico.   


Não consigo esquecer aquela última cirurgia. Aconteceu por volta do Natal de 2011. Naquele ano, o Natal foi diferente para todos nós.   


Então chegou janeiro. Com o Ano Novo, veio uma renovada sensação de esperança. Acreditávamos que tempos novos e melhores estavam por vir. Mas o caminho não foi fácil. Naquele mês, a minha tia começou a quimioterapia. Lembro-me claramente: embora ela demonstrasse força em todas as sessões, o tratamento era brutal e os efeitos colaterais, devastadores.   


Eu a vi perder a cor, o cabelo, a força. Ela enfraquecia um pouco mais a cada sessão. Era de partir o coração. Eu sentia a sua tristeza e o seu medo, embora ela tentasse escondê-los. Ela era uma mulher dedicada e gentil, que cuidava muito bem de mim e dos meus irmãos - a irmã que estava ao lado da minha mãe. A sua força física diminuiu, mas a sua luz e resiliência nunca se apagaram.   


Ficámos todos surpreendidos no dia em que vimos a minha tia, ainda em tratamento, a contar a sua história na televisão. Entre a dor e a descoberta, a nossa família aprendeu o verdadeiro significado da resiliência.   


Lembro-me que, mesmo careca, a tia Luz não gostava de lenços nem de perucas. Ela nunca perdeu a sua beleza nem a sua vaidade. Era a imagem perfeita da autoestima. As pessoas costumam falar sobre autoimagem, mas aprendi desde cedo o valor de cuidar da nossa aparência e de enfrentar os desafios da vida com dignidade e graça.   


Mulher de fé, ela inspirava todos à sua volta. E da sua força nasceu uma vasta rede de apoio: família, amigos e a sociedade em geral. Com a resiliência despertada, chegou a vitória tão esperada.   


Meu Deus! De onde veio a sua força? Luzimira de Carvalho, hoje conhecida como Luz Resiliente. Ela foi diagnosticada aos 29 anos. Ela interrompeu os estudos, o trabalho, a vida... para lutar. A universidade e a carreira ficaram em espera por um ano. Mas ela lutou e voltou mais forte.   


Lembro-me assim:   

Aos 29 anos, foi diagnosticada com cancro da mama.   

Aos 30, voltou ao trabalho.   

Aos 31, começou um novo relacionamento.   

Aos 32, ficou noiva.   

Aos 33, casou-se.   

Aos 35, teve o seu primeiro filho.   

Aos 37, o segundo.   

Aos 40, publicou um livro.  


Hoje, ela é uma das ativistas de saúde mais influentes do nosso país. Ela possui três mestrados em áreas focadas em saúde e bem-estar. É presidente da Liga Angolana Contra o Cancro e vice-presidente da Associação Lusófona para a Promoção da Literacia em Saúde em Oncologia, com sede em Lisboa, Portugal.   


Entre muitas outras realizações, ela é a mulher que deu à luz dois filhos após um diagnóstico de cancro. Amamentou os dois até quase aos dois anos de idade, mesmo tendo apenas um seio. É reconhecida onde quer que vá como uma mulher de impacto, ganhando o título de «Doutora de Vidas».   


Da dor do diagnóstico e da luta pela sobrevivência surgiu o projeto Rosa Esperança. É um projeto que acolhe e apoia mulheres de todo o país com histórias de cancro.   

Hoje, como adulta, sou uma estudante de medicina dedicada, graças ao impacto positivo da jornada de fé, luta e resiliência da minha tia. Espero um dia ser uma ótima médica e salvar muitas vidas, assim como a minha tia fez. Não porque ela é médica, mas porque ela é uma verdadeira rosa e uma Luz Resiliente, que brilha e inspira onde quer que vá.   


Sim! Um farol para todos os que lutam contra esta doença devastadora. Uma verdadeira Rosa da Esperança, que já salvou inúmeras vidas através da sua coragem e da sua história.   


E se me perguntar quem é a Luzimira de Carvalho João (ela agora é casada e adotou um apelido antes não mencionado), direi simplesmente:   

Ela é uma das rosas mais bonitas do jardim da minha vida.   

Um poderoso símbolo de resiliência.   


A fonte da minha inspiração, como uma jovem mulher que se esforça para superar.   

Com ela, aprendi que a vida não termina com um diagnóstico.   


E sim, às vezes, um diagnóstico, mesmo um tão assustador como o cancro, pode tornar-se o trampolim que nos permite reestruturar as nossas vidas e tornar-nos uma luz para os outros. 

Ela interrompeu os estudos, o trabalho, a vida... para lutar. Mas ela lutou e voltou mais forte.” 
Esta história foi retirada do livro "Vozes Sem Fronteiras: Histórias de Coragem e Resiliência de Mulheres", editado e publicado pela editora angolana É Sobre Nós Editora e patrocinado pela Africa-Europe Foundation.

 

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