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Vozes Sem Fronteiras: Histórias de Coragem e Resiliência de Mulheres Unindo África e Europa  

Oct 11

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As Dificuldades Que Me Moldaram  


Por Helena Gonga Muamba  



Perdi os meus pais quando era muito jovem e fui obrigada a sair da casa do meu querido tio, que tinha cuidado de mim. A partir daí, a vida ficou ainda mais difícil. Mesmo assim, estava determinada a manter a cabeça erguida.  


Sou a quarta de seis irmãos. Quando os meus pais faleceram, ficámos todos separados.   

Fui morar com o meu tio-irmão e a sua família. Eu tinha apenas seis anos, quase sete na altura. O ambiente era completamente estranho, mas eles deram-me todo o amor e atenção de que eu precisava.  


Tudo mudou no dia em que uma prima pediu ao meu tio para me deixar morar com ela numa província distante. Ela queria que eu fosse a masseca (babá) dos seus filhos. Eu tinha apenas dez anos, era ainda uma criança.  


Foi em Matala, província da Huíla, que tive a minha primeira experiência com vendas: estudava de manhã e, à tarde, vendia gelados em uma praça distante, carregando uma caixa térmica na cabeça. Sol ou chuva, lá estava eu. Não era algo para uma criança da minha idade, mas era obrigada a fazer, sob risco de severas penalidades.  


Mais tarde, a minha prima engravidou de gémeos. Ela voltou para Luanda para dar à luz e eu tive de ir com eles. Como resultado, não terminei o ano letivo.  

Depois, mudamo-nos para o Huambo, e foi aí que tudo mudou.  


O meu cunhado deixou claro que não queria mais que eu morasse na casa dele. Devido aos maus-tratos, tornei-me uma adolescente deprimida, cheia de traumas e humilhações. Tentei ao máximo continuar a ver o lado bom das coisas e das pessoas.  

Eventualmente, ele tirou-me de casa, xingando-me e dizendo que eu não seria ninguém, que me perderia em Luanda, que teria filhos sem pai.  


Era um dia de chuva. Eu tinha apenas 16 anos e pensei em desistir da vida. O que me manteve de pé foi o desejo de me tornar independente e inspirar outras mulheres.  

Depois de passar um dia nas ruas, uma amiga da minha prima acolheu-me até eu terminar o ano letivo. Depois disso, voltei para Luanda, onde fui morar com outra tia.  


Contudo, lá, também enfrentei desconfiança, pois o meu cunhado havia inventado mentiras pesadas sobre mim.  


Comecei o ensino secundário numa escola privada com dois primos, mas, após três meses, a minha tia deixou de pagar as minhas propinas.  

O meu mundo desmoronou.   


Fiquei um mês sem estudar por causa das dívidas, enquanto os meus primos continuavam normalmente.  


Para não perder o ano, procurei emprego e consegui trabalhar como babá. Com esse trabalho, pude retomar os estudos, mas surgiram novos problemas: estudando e trabalhando, já não tinha tanto tempo para os afazeres domésticos. Mesmo assim, decidi continuar, porque sabia que o meu futuro dependia apenas de mim. No meio das turbulências, busquei capacitação: fiz cursos gratuitos, participei de palestras motivacionais.  


Finalmente consegui terminar o ensino secundário aos 19 anos. Foi um marco importante, pois fui a primeira da minha família a conseguir isso. Em 2022, consegui o meu primeiro emprego numa empresa conceituada. No ano seguinte, fui promovido a chefe de equipa, cargo que ocupo até hoje.  


Sempre digo que as dificuldades que enfrentei me tornaram quem sou hoje. Atualmente, moro sozinha, estudo e trabalho. Todos os dias, enfrento novos desafios, mas sempre me esforço para me tornar uma pessoa melhor.   


Ao partilhar a minha história, quero mostrar que é possível realizar os seus sonhos e evitar cair no mundo das drogas ou da prostituição. O meu objetivo é encorajar, motivar e orientar outras mulheres da minha idade para que tenham sucesso.  

 

“Era um dia de chuva. Eu tinha apenas 16 anos e pensei em desistir da vida. O que me manteve de pé foi o desejo de me tornar independente e inspirar outras mulheres.”  

  

Esta história foi retirada do livro "Voices Without Borders: Women’s Stories of Courage and Resilience", editado e publicado pela editora angolana É Sobre Nós Editora e patrocinado pela Africa-Europe Foundation.


 

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